domingo, 27 de maio de 2012

Artur Braz: história de títulos, recorde, pioneirismo...

Aos 74 anos, Braz ainda lembra de tudo que fez no futebol (Fotos: Acervo Severino Filho)
Durante muitos anos, o nome de Artur Braz foi mencionado nos noticiários esportivos da imprensa piauiense. Como jogador, apenas o lateral Braz; como árbitro, Artur Braz. Um nome pequeno, apenas duas palavras, mas que construu uma grande história dentro do futebol piauiense. Aos 74 anos de idade, morando no mesmo cantinho de tantos anos - à Rua Heráclito de Sousa -, ele lembra de tudo que aconteceu ao seu redor. Desde os tempos de Quincas Braz, jogador do antigo Botafogo, seu pai.

Isso mesmo. Artur Braz - é este o seu nome completo - nascido em Teresina, em 30 de novembro de 1937, é filho de um dos jogadores do futebol piauiense em seus áureos tempos do amadorismo. Quincas Braz foi pentacampeão piauiense com o Botafogo, pela Liga Piauiense, em Teresina, nos anos de 1934/35/36/37 e 38.

Seguindo os passos do pai, Braz jogou no Cruzeiro, Botafogo e Flamengo. E foi duas vezes campeão piauiense. Em 1957, pelo Botafogo, na última conquista do time alvinegro, e em 1964, no Flamengo, quando o time rubro-negro conquistou seu primeiro título profissional. Em 63, foi campeão maranhense pelo Maranhão. Mas, voltando ao Flamengo, no retorno para o bi, em 65, uma contusão impediu que ele continuasse jogando. Incentivado por Carlos Said, que disse-lhe "faz o curso de árbitro, você será um grande árbitro", Braz continuou no gramado, mas agora com a autoridade de árbitro.

"O grande impulso da minha carreira" - recorda Braz - "aconteceu quando da célebre briga com o Tassu. O Manguito, goleiro do River, pegou um pênalti num Rivengo. O Tassu correu para abraça-lo, e o Manguito foi saindo daquela euforia. Por trás, o Tassu agarrou-lhe e terminu pegando na bola, que estava em jogo, com as duas mãos. Eu marquei novo pênalti e a confusão começou". O acerto na marcação do novo pênalti deu a Braz a personalidade que um jovem árbitro precisa no início de sua carreira. Daí em diante, a profecia de Carlos Said se confirmou.

Considerado o melhor árbitro do futebol piauiense por muitos anos, Braz terminou se constituindo no árbitro que mais dirigiu o principal clássico do Estado (River x Flamengo), ao apitar 45 confrontos, quase o dobro do segundo colocado, Antônio Pereira dos Santos. Braz também foi um dos árbitros que mais apitou no Campeonato Piauiense, com 285 atuações entre 1965 e 1985. A propósito, ele detém um recorde que dificilmente será igualado: é o árbitro que mais dirigiu jogos em um único campeonato piauiense - 39 partidas no certame de 1983.

Entre as grandes alegrias da sua carreira, faz questão de ressaltar os jogos de Campeonato Brasileiro, principalmente fora de Teresina. "Apitei jogo em Aracaju, Recife, São Luis, Belém, isso foi muito importante". Com tanto tempo dentro dos gramados, quem seria o melhor jogador que ele viu. "Matintim. Era um grande jogador". 

E o árbitro que lhe serviu de inspiração? "Aqui não tinha bons árbitros. Muito bons eram aqueles que vinham apitar aqui e eram de outras centros mais adiantados, como Sebastião Rufino, de Pernambuco". Sobre um jogador que era complicado dentro do campo, que dava trabalho para o árbitro, ele citou dois exemplos: "Bitonho e Paulo Cesar Vilarinho. Dois jogadores que complicavam qualquer jogo".

Braz, Sansão (da Federação Carioca) e Gustavo Adolfo Maia.
Mas uma frase foi creditada a ele durante seus 20 anos de arbitragem - "time do interior não tem vez". Quando perguntado sobre o tema, Braz responde sem hesitação: "Eu nunca disse isso. Essa história começou quando eu expulsei de campo o zagueiro Valdivino, do Ferroviário de Floriano. Na saída do jogo, ele foi perguntado pelo Garrincha o que tinha feito e respondeu que eu o expulsei dizendo a ele que time do interior não tinha vez. A história pegou sem eu nunca ter dito isso".

Aposentado como 1° sargento da Polícia Militar, durante 33 anos exerceu a função de serralheiro dentro da PM. "Apesar desta atividade, continuo enxergando muito bem". Andando lentamente, em face de um problema muscular, ele faz um pedido "manda um abraço prá mim, se não vão pensar que eu morri". Pedido desnecessário. Quem entra para a história, sempre continuará bem vivo.

ALGUS JOGOS MARCANTES

15/11/1964 - Flamengo 3x0 Comercial - Último jogo oficial como atleta profissional.

21/04/1965 - River 3x1 Flamengo - Torneio Marinho Rodrigues - 1° Rivengo que apitou.

27/06/1965 - Flamengo 4x1 Ferroviário de Floriano - 1° jogo que apitou de Campeonato Piauiense.

20/03/1966 - River 1x2 Flamengo - Taça Afrânio Nunes - Célebre jogo da briga com o jogador Tassu, do River.

25/11/1973 - Moto Clube 0x0 Paysandu - Primeira arbitragem de um piauiense na Série A do Campeonato Brasileiro.

08/12/1982 - River 1x3 Tiradentes - Último jogo decisivo de Campeonato Piauiense que dirigiu.

23/10/1985 - Tiradentes 2x1 River - Último jogo oficial dirigido por Artur Braz.

Nascimento puxa o contra-ataque para o River. Braz acompanha a jogada. Foi assim por 20 anos.

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