quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nilton Santos, A Enciclopédia do Futebol


Ricardo Augusto Amorim Franco de Sá

Acordei cedinho...! Parafraseando o início de uma das mais belas crônicas de Armando Nogueira (“A alegria de um coroa”), que é justamente sobre o personagem da história que irei contar.

Acordei cedinho! Era uma sexta-feira, antevéspera do carnaval de 2013 e eu parti rumo ao Rio de Janeiro para realizar o sonho de desfilar na minha Portela querida, a mais tradicional e detentora do maior número de títulos dentre as escolas de samba do Rio de Janeiro. Levava na bagagem um sonho ainda maior, conhecer o jogador Nilton Santos, que meu pai falava, desde muito cedo, saber tudo de bola, daí o apelido Enciclopédia. Tinha comigo uma foto histórica, tirada pelo saudoso Totó Barbosa no Lindolfo Monteiro, em 1958, no embate contra o River, do nosso craque ladeado pelos já então igualmente campeões mundiais Didi e Garrincha.

Durante toda a semana tentei desvendar onde se encontrava internado o grande Nilton Santos, bicampeão mundial de futebol nos mundiais de 58 e 62. Entrei em contato com os meus amigos jornalistas, Buim, Herbert Henrique, Garrincha, Edgar Neto para que eles me conseguissem o endereço da clínica onde estaria internado o nosso ídolo que sofria do Mal de Alzheimer há alguns anos. Infelizmente, nada puderam fazer por mim.

Cheguei ao Rio no final da manhã e encontrei minha namorada (hoje noiva), Glennda que estava vindo de outra cidade por questões profissionais. Fomos direto para o hotel, almoçamos e em seguida, fomos ao Palacete histórico de General Severiano, sede do glorioso Botafogo de Futebol e Regatas.

Ao chegarmos, a recepcionista, educadamente, nos disse que já havia terminado o horário de visitas e que não havia mais guias para nos acompanhar. Glennda disse que bastaria nos deixar entrar, pois a história, fotos, taças e tudo mais que encontrássemos pela frente, eu conheceria mais que os guias.

Entre fotos, emoções e lembranças, tentava descobrir, discretamente, perguntando a cada funcionário que encontrava, onde era a tal clínica. Ninguém sabia, ou então, não podia falar. Quando já estávamos indo embora, fiz uma última tentativa. Perguntei a um sujeito jovem, que se apresentou como do departamento de marketing do clube. Mostrei a foto que trouxera para o craque, mas que precisava muito do endereço da clínica. Ele pegou a foto, pediu que aguardasse e entrou pra sua sala de trabalho. Confesso que não fiz fé. Pensei que em dois minutos me traria a foto de volta e daria uma desculpa qualquer. O tempo foi passando, e minha esperança aumentando. Mais alguns minutos, e ele me trouxe a foto e um pequeno pedaço de papel com o endereço e o telefone da clínica, mas me pediu que não dissesse a ninguém como consegui a informação, no que prontamente concordei e agradeci.

No dia seguinte, sábado de carnaval, ligo para a clínica e confirmo a informação. Era lá que se encontrava o nosso “coroa”, mas que, por ordens da família, não poderia receber visitas. Ao desligar, virei-me para Glennda e disse que arriscaríamos.

A ida até a clínica já foi uma epopeia. Era muito difícil driblar os muitos blocos carnavalescos espalhados pela cidade. Pegamos metrô, ônibus e táxi até chegarmos à clínica. A atendente que nos recebeu disse que por ordens da família ele não poderia receber visitas. Mostrei a foto que gostaria de entregar-lhe e pedi para falar com a pessoa que estivesse na condição de acompanhante do paciente. Falei com ela por um ramal interno e expliquei a longa distância percorrida, que havia trazido uma lembrança, etc. e ela pediu que eu aguardasse, que viria falar comigo pessoalmente. Novas explicações, ligações para os familiares para uma autorização que, enfim, chegou através de um sobrinho do craque.

Subimos ao primeiro andar onde logo de cara deparei-me com uma pequena placa com os dizeres: “Seja bem-vindo, mas não fale mal do Botafogo”. Realmente fomos muito bem recebidos pela Dona Marly. A enciclopédia estava deitada, mas ao chamado de Dona Marly logo se levantou para receber os novos “amigos” que estavam ali para prestar-lhe sincera homenagem. Não me contive, fui às lágrimas ao cumprimentar aquele jogador que fora eleito o melhor lateral-esquerdo e jogador de defesa de todos os tempos, compondo o esquadrão eleito pela FIFA como o melhor da história. A emoção era indescritível.

Controlei-me para poder conversar um pouco com aquele ídolo que desde muito cedo povoava minha infância. Disse-lhe que ali estava para prestar-lhe um tributo por tudo o que ele havia feito pelo Botafogo e pela Seleção Brasileira. Mostrando a foto, ele prontamente identificou os grandes amigos Garrincha e Didi. Perguntei se tinha algum marcador capaz de parar o Mané. “Tinha nada”, respondeu, olhando a foto com certo ar nostálgico.

Tiramos várias fotos, vimos os quadros, premiações e troféus recebidos ao longo de uma carreira inigualável. Fiquei extremamente feliz por ver o craque sendo bem tratado, com toda a atenção e conforto que ele merecia. Antes de sairmos, minha noiva ainda perguntou: “E o Bota, vai ser campeão carioca?” “Se Deus quiser!”, respondeu a Enciclopédia. E Deus quis!

Como diria seu amigo, poeta, escritor e guardião da mesma estrela solitária estampada no peito, Armando Nogueira: “Tu, em campo, parecia tantos, e, no entanto, que encanto! Eras um só: Nilton Santos”.

Ricardo Augusto Amorim Franco de Sá
ricardoaugusto.sa@hotmail.com
Advogado e Professor


Um comentário:

  1. LI TODA A MATÉRIA.TENHO QUE DIZER UMA COISA.NÃO SOU BOTAFOGUENSE,MAS FIQUEI COM OS OLHOS CHEIOS DE LAGRIMAS E COM UM NÓ DE CHORO NA GARGANTA A CADA LINHA DESTA CRÔNICA QUE LI.FIQUEI MAIS EMOCIANADO AINDA, E COM VONTADE DE CHORAR AO VER A FOTO DELE TIRADA AQUI EM TERESINA E A FOTO DELE ATUAL AO LADA DO AUTOR DA CRÔNICA.E POSSO AFIRMAR:O TEMPO NÃO PERDOA.ABRAÇOS AO AUTOR DA CRÕNICA E AO BUIM QUE A PUBLICOU.

    PS:SÓ LEMBRANDO.A PRELIMINAR DO JOGO EM QUE ESTA FOTO DO NILTON SANTOS FOI TIRADA AQUI EM TERESINA,MEU PAI A JOGOU.SE NÃO ME ENGANO ESTE JOGO AI DA FOTO, FOI O DA INAUGURAÇÃO DA ILUMINAÇÃO DO LINDOLFO MONTEIRO,SEI POR QUE MEU PAI ME DISSE.A PRELIMINAR FOI DISPUTADA ENTRE DOIS TIMES AMADORES DA EPÓCA AQUI DE TERSINA ME LEMBRO DO PIO XII POIS ERA O TIME QUE MEU PAI E MEU TIO JOGAVAM E ERAM TITULARES.O OUTRO ,QUEM FOI MESMO?,AI,AI, ME DEU UM BRANCÃO AGORA DE QUEM ERA O OUTRO TIME.SÓ SEI QUE O PASSE DO GOL PARA O PRIMEIRO GOL DESTA DATA FESTIVA FOI DADO PELO MEU PAI QUE ERA O PONTA DIREITA DO PIO XII AO CENTER FOUR DO SEU TIME NOME DADO AOS CENTROAVANTES DA EPOCA,PASSE DE PEDRO EM UM CHUTE CRUZADO DA LATERAL DA GRANDE AREA DO LINDOLFINHO NAQUELA TRAVE EM DIREÇÃO A MATINHA E GOL DE EMA PARA O PIO XII. ESTAVA ALI O PRIMEIRO GOL MARCADO NAQUELA TARDE FESTIVA EM PLENO LINDOLFO MONTEIRO.BUIM SE QUISER SABER MAIS, É SÓ PERGUNTAR AO MAGRO DE AÇO. ELE JÁ ATÉ FEZ UM COMENTÁRIO NA TV CIDADE VERDE À EPÓCA EM QUE MEU TIO POR NOME ALFREDO QUE TAMBÉM JOGAVA NO PIO XII FALECEU A RESPEITO DO DIA DESTE JOGO HISTÓRICO PARA O FUTEBOL AMADOR DE TERESINA.MEU PAI AINDA É VIVO E TEM 76 ANOS DE IDADE.

    ResponderExcluir